Review+Recomendado: "A History of Violence" 8*/10


Pessoas como eu que tinham na altura o famoso King Kard, ficaram decepcionadas com o facto dos cinemas de Alvalaxia não proporem o "History of Violence" as seus clientes (tal como não tivemos a oportunidade de ver o último filme do mesmo realizador "Eastern Promises" que estava noutras salas Lusomundo). Há dias, passei pela Fnac e vi que restavam umas cópias do "History..." a menos de 10€. Como tinha gostado moderamente do "Eastern..." (que paguei para ver no campo pequeno...Pfffff) e como alguns amigos me tinham dito que o "History..." era melhor, decidi arriscar e levar o filme. Ainda bem que assim o fiz...
A primeira coisa que se faz antes de ver um filme comprado em Portugal, não é ler a sinopse que vem na parte de trás do DVD. Eu não sei se os senhores da Prisvideo viram o filme, mas o Tom Stall NÂO TEM POR HABITO COMER NUM RESTAURANTE ONDE ACABA POR SALVAR OS CLIENTES mas sim É DONO DO RESTAURANTE ONDE SALVA OS CLIENTES. Ok, estou a ser mau, mas esta falta de profissionalismo relativamente aos DVD's irrita-me (bem, pelo menos neste a sinopse está compreensivel e não em Espanhol ou com erros de conteúdo que está descrito e que afinal não tem).

Tom Stall (Viggo Mortensen) vive com a mulher (Maria Bello) e os dois filhos numa pequena cidade rural dos E.U. Um dia, dois criminosos procurados pela policia decidem assaltar o seu estabelecimento, um pequeno diner. Tom tenta manter-se calmo, porque apesar de tudo ele é um cidadão respeitado e comum, mas quando os criminosos decidem passar para a violência, Tom reage acabando por eliminar os dois de uma forma profissional. Após isso, é visto como um herói por todos e a sua história acaba por fazer manchete em todos os meios de comunicação. Uns dias após o incidente, uns mafiosos fazem irrupção no seu diner porque acreditam que o Tom é afinal de contas o Joey Cusack, um assassino/mafioso de Filadélfia que outrora tentara matar o lider da mafia de local, Carl Fogarty (Ed Harris) mas sem o conseguir, deixando-o desfigurado e sobretudo sedente de vingança.

O filme começa logo com os dois criminosos a iniciarem a sua viagem que terminará no diner de Tom Stall, deixando atrás deles uns corpos eliminados de fresco. O filme não tem nada de montagem "moderna" repleta de fast-forward ou flashback, tudo tem o seu tempo e David Cronenberg vai instaurando a atmosfera de forma lenta mas cirúrgica. O setup mostra-nos o quotidiano da familia Stall, o filho mais velho é constantemente assediado na escola pelos "Bullys", a mulher é uma advogada e está perdidamente apaixonada pelo marido, Tom Stall, dono orgulhoso de um pequeno diner e homem sem problemas e perfeitamente inserido na comunidade. É a partir desta vida banal que a violência se instaura (primeiro na escola, depois no diner) mas sempre com poucos artificios. Aqui não há espaço para violência estilizada com slow motion e afins, quando se mata, mata-se friamente e de forma realista. Admito que estava a espera de ver baldes de sangue e sobretudo tiros constantes mas, felizmente para mim, tudo está muito contido e excelentemente executado. Claro, há tempo para ver uma ou outra cara desfeita, mas o importante não se centra nessa violência gráfica. A dualidade da personagem, o seu provavel passado, a sua vida ser ou não ser uma mentira... Tudo é tratado da melhor forma em 90 minutos. Lamento talvez o desfecho e o sub-aproveitamento da personagem de William Hurt (que ganhou uma nomeação para Óscar de melhor secundário por essa personagem...Não sei como, não creio que se justificasse, não por este estar mal mas sim pelo pouco tempo de antena e a pouca exploração da psicologia da própria personagem) e também o uso da música de Howard Shore que, sem ter reparado no genérico a sua presença, a meio do filme questionei a música que me fazia lembrar o senhor dos anéis (ainda por cima, com o Viggo Mortensen). Quando finalmente vi que era ele fiquei desiludido porque a música tem dificuldade em sustentar o filme, sendo demasiado...Bem, demasiado senhor dos anéis. De resto, a realização está muito boa. Sóbria e inteligente, é um dos pontos altos do filme e o que também ajuda a sustentar uns actores por vezes demasiados "Keannu Reeves" ou seja, inexpressivos e vazios. Cronenberg aproveita o cenário da melhor forma e, como mencionado anteriormente, não faz uso de qualquer artificio para embelezar o quadro. A cena de sexo, por exemplo, é um elemento de destaque já que é construída de forma cuidada sem nunca cair na simples exibição e fazendo todo o sentido para a história.

Conclusão, "A history of violence" é um bom filme. São 90 minutos de bom cinema, com uma história que, apesar de pouco inovador, é bem explorada e levanta questões sobre a violência no quotidiano e sobretudo nos E.U. E depois, pode levar-vos a ler a B.D da qual o filme foi adaptado. Eu pelo menos fiquei curioso. Para além disso, a edição em dvd é de qualidade, com extras muito interessante, nomeadamente a desconstrução das cenas pelo realizador com imagens de rodagem e comentários e tudo legendado em Português.

Stay Tuned.

1 Bilhete(s):

Cesar Valentim disse...

Sabe onde ainda se consegue comprar em Portugal algum exemplar de "A History of Violence" em DVD?