Review+Recomendado: "Sweeney Todd" 8*/10


Um musical? Com Johnny Depp? Realizado por Tim Burton? Naaaaaaa... Existe?! Ah! Trata de um barbeiro assassino em Londres no século 19... Pois, agora acredito que seja verdade...

Quando ouvi falar deste projecto há cerca de 2 anos (foi numa entrevista se não me engano) fiquei um pouco surpreendido. Mas as boas noticias eram muitas (nomeadamente outro encontro de Burton e de Depp) mas sobretudo a temática é que me levou a pensar que seria uma boa oportunidade para Burton voltar as origens e quem sabe presentear-nos com um novo Eduardo mãos de tesoura ou ainda um Ed Wood só que mais sádico.

Benjamin Barker (Johnny Depp), um famoso barbeiro, é aprisionado sobe falsas acusações pelo juiz Turpin (Alan Rickman) que ao ver a mulher de Barker, ficou completamente obcecado por ela. 15 anos depois, Barker escapa da prisão e é resgatado por um jovem marinheiro que seguia caminho para Londres. De regresso a sua antiga casa, agora transformada em pastelaria (a pior de Londres), Barker aluga o espaço superior à nova senhoria, Mrs Lovett (Helena Bonham-Carter), que acaba por o reconhecer e lhe conta que a sua mulher enlouqueceu mas que a sua filha continua à guarda de Turpin. Benjamin Barker decide então reabrir o seu salão sob o nome de Sweeney Todd, procurando vingança de todos os que algum dia lhe fizeram mal...

O inicio do filme deixa perplexo, até a interpretação musical de Johnny Depp custa a convencer plenamente. O ponto positivo, é que 2 minutos após isso o sentimento já é outro, Tim Burton está de regresso ao seu estilo mais puro. Adaptado de uma peça de Broadway de sucesso, "Sweeney Todd" não é nenhum conto de fadas. Com uma fotografia magnifica (muito expressionista), Burton vai criando uma atmosfera pesada e sombria apoiado por uma bela dupla de actores: Depp e Bonham-Carter. Ambos os actores estão perfeitamente conscientes das suas personagens. Depp transpira o estilo gótico que Burton adora exibir. É negro, sádico e profundo, tornando a sua personagem bastante aterradora. Relativamente ao canto, todas as dúvidas são dissipadas quando Sweeney Todd reencontra as suas lâminas e lhes canta o tema "my friend". É verdade que a sua voz é mais "Rock" que romântica, mas este exercicio prova que as suas capacidades não se limitam a interpretação (como Ewan McGregor também o demonstrou em "Moulin Rouge"). Helena Bonham-Carter continua à ser uma actriz muito interessante que é dona de um fisico de outros tempos mas que tem um talento inato para representar personagens um pouco à margem e repletos de loucura. Mrs.Lovett é uma das personagens mais engraçada aos olhos do público, já que passa o filme a debitar diálogos irónicos e sobretudo repletos de humor (negro?) e consegue surpreender com a sua voz delicada e justa. A sua personagens tem mais camadas do que Sweeney Todd já que vive para muitas coisas e não somente para vingança. Os secundários estão todos bem, Sasha Baron-Cohen em primeiro, que com a sua personagem de pseudo-barbeiro Italiano consegue um bom distanciamento da sua personagem "Borat".
Relativamente à música e a realização não há grande coisa a dizer: ou se gosta do estilo ou não, mas a música consegue sempre ser interessante e barroca. Desta vez, Danny Elfman não participou ao projecto (o único com "Ed Wood") mas a orquestração é de qualidade e o elenco secundário destaca-se pelo lado profissional das interpretações musicais (a filha de Sweeney e o jovem marinheiro, nomeadamente). Agora, a realização de Burton deve muito ao cinema mudo e de terror dos anos 20-30. A composição dos planos é sempre conseguida, e mesmo assim consegue misturar planos mais ousados (sobretudo planos de grua) conferindo uma boa fluidez ao filme. Depois, as temáticas estão cá e Burton aproveita também para exagerar a vilência gráfica de certas passagens tornando o filme um pouco mais leve. Há muito sangue, mas feito como foi feito, tudo é demasiado explicito, por vezes, o que não deverá chocar os entendidos.

Conclusão, "Sweeney Todd" é um filme muito "Burtoniano" talvez demais, o que vai certamente desconcertar certos espectadores que podem não gostar da suas obras anteriores ao "Planeta dos Macacos". Aqui não há lugar para bons sentimentos, é uma história de vingança sangrenta, cantada e excelentemente interpretada. Se gostam do estilo de Burton e de filmes como "A noiva Cadáver" ou ainda "Sleepy Hollow" ou "Eduardo mãos de Tesoura", de certeza que vão aderir ao filme. Os outros, é muito provável que aproveitem cada fraqueza para resmungar e assassinar o filme mas também é muito provável que sucumbem a atmosfera negra e que se deixem levar por este musical pouco vulgar.

Stay Tuned.

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